Era de uma casa simples da periferia do Recife o endereço que constava como “sede” da NR Lima Racing, nome fantasia de uma “empresa” aberta em março de 2011 com o objetivo de “promover o automobilismo” na capital de Pernambuco, onde à ocasião sequer havia um Kartódromo, já que o único existente nas imediações, o “do Tamboril”, no município de Paulista, na Região Metropolitana, sequer existia à época.
Mesmo recém-fundada e com objetivos sociais pouco claros, a “empresa” Nailda Rodrigues Lima Produções e Promoções de Eventos Esportivos – ME conseguiu um contrato de prestação de serviços com a Confederação Brasileira de Automobilismo que lhe garantia R$ 14 mil mensais, valor que anualmente chegava aos R$ 170 mil que deixavam os cofres da entidade sem que houvesse a apresentação de uma Nota fiscal sequer com a especificação dos serviços prestados, irregularidade que parecia “normal” aos olhos dos representante do Conselho Fiscal.
Mais que os valores pagos à NR Lima Racing pelos supostos serviços, de tempos em tempos o nome da empresa surgia em justificativas de valores retirados pelo presidente Cleyton Pinteiro, numa clara manobra para tirar dos cofres da Confederação valores que legalmente não seriam devidos, uma vez que como juridicamente a entidade não tem fins lucrativos, seu presidente tem de exercer o cargo sem nenhuma remuneração.
Outras benesses
Pelo menos em tese, exercer o cargo não remunerado de presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo pressupõe que luxos como assinatura de TV a Cabo, despesas com cabeleireiros para a esposa, supermercados e locação de veículos quando não a serviço da entidade seriam mimos não passíveis de reembolsos pela entidade, mas em sua gestão Pinteiro conta com essas benesses, quando não apresentando recibos da própria NR Racing como justificativas para os pagamentos, faturas do Cartão de Crédito Corporativo.
O escândalo das viagens
Antigo membro titular, e atual reserva do Conselho Mundial de Motorsports da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) – o que faz com que a presença aconteça na base do “entrar mudo, sair calado” -, a Confederação Brasileira de Automobilismo não deixa de comparecer às reuniões que acontecem quatro vezes ao ano em diferentes países da Europa, mas os relatórios das despesas dessas viagens completamente sem sentido envolvem valores e atitudes de revirar o estômago.
O mal-estar começa já na primeira reunião comandada por Cleyton Pinteiro como presidente da CBA, quando o item que previa a compra de passagens da Classe Executiva sofreu alterações, passando a considerar plausível vôos de Primeira Classe, um adicional de despesas que muito bem poderia ser poupado e o saldo revertido em favor do desenvolvimento do automobilismo nacional, claro caso de fato houvesse interesse em seu crescimento...
Mas a “Farra do Boi” com o dinheiro da entidade não se prende exclusivamente às viagem em Classe superior, já que o que seria uma mera participação no “meeting” da FIA via de regra inclui aquisição de passagens também para as esposas dos representantes do país.
O nó no estômago só faz crescer quando o assunto é a hospedagem escolhida para essas viagens, item no qual a CBA “atropela” as sugestões da FIA (que ao enviar as convocações manda uma lista de sugestões de quatro hotéis com os descontos negociados), com a opção sendo sempre por hotéis bem mais caros reservados por uma Agência de Viagens escolhida a dedo por Pinteiro. Por coincidência, esta Agência é localizada em Florianópolis, curral eleitoral do ex-presidente da Federação Catarinense (FAUESC), Jairo Albuquerque, que responde a diversas ações do Ministério Público por malversação de verbas incentivadas pela Fesport, a Fundação Catarinense de Esporte.
Sem oposição, sem contestação
Sem de fato ter criado algo positivo para o automobilismo brasileiro desde que assumiu a presidência da CBA pela primeira vez, em março de 2009, Cleyton Pinteiro isolou completamente a entidade da moribunda realidade do automobilismo nacional já em meados de 2015, quando passou a trabalhar em prol da candidatura do conterrâneo pernambucano Waldner Bernardo de Oliveira, o “Dadai”, que o sucedeu no cargo de presidente da Federação Pernambucana de Automobilismo, e que agora pretende colocar na Confederação.
O empenho de Pinteiro em eleger Dadai, obviamente com promessas de benesses a muitas Federações, é a peça que faltava no quebra-cabeças do praticamente falecido Automobilismo Nacional, que na eleição que vai acontecer dentro de dez dias na sede da CBA no bairro da Glória, no Rio de Janeiro, terá a grande oportunidade de trocar a Farra do Boi financeira dos últimos anos por uma gestão profissional, onde todos os envolvidos com o esporte possam usufruir de benefícios, ao contrário do que ocorre atualmente, onde apenas o seleto grupo de senhores que eventualmente se reúne na capital carioca se locupleta.
Terminou como começou
A “empresa” citada no início desta matéria encerrou suas atividades em 18 de novembro de 2015, segundo o registro da Junta Comercial de Pernambuco.
O que resta saber é onde foram parar e para que serviram os R$ 784 mil recebidos entre a abertura e o encerramento das atividades. |