Ao retornar de uma viagem à Europa, em meados dos anos 50, Wilson Fittipaldi, o "Barão", pai de Emerson e Wilson Fittipaldi Júnior, trouxe na bagagem uma idéia: realizar no Brasil, onde a indústria automobilística começava a se instalar, uma prova de longa duração nos moldes da então já tradicional "Mille Miglias DItalia".
Por serem diversas as providências necessárias à realização da prova, Fittipaldi procurou seu colega de corridas de motocicletas, Eloy Gogliano, então já proprietário do Centauro Motor Clube, com quem dividiu os afazeres.
Do sonho à sua realização muito tinha de ser feito, especialmente com relação ao circuito paulistano, onde buracos e constantes desmoronamentos de barrancos impossibilitariam a realização da corrida. "Interlagos era um caminho asfaltado no meio do mato", relembra o Barão, que relata o que foi feito para a solução deste problema: "procurei o Scalamandré Sobrinho, então prefeito de Santo Amaro (bairro da Zona Sul paulistana que na ocasião era município independente) que permitiu que algumas máquinas se deslocassem até o autódromo, possibilitando o reparo dos trechos mais críticos", diz Fittipaldi, um paulista da cidade de Santo André.
Viajando em busca de pilotos
Tapados os buracos da pista, outras providências tinham de ser tomadas, como relembra o Barão: "Tanto o Eloy quanto eu saímos praticamente batendo de porta em porta para convidar pilotos eventualmente interessados para competir na Mil Milhas. Mas concluímos que não seria possível juntar mais que uma dúzia de pilotos, já que o automobilismo local praticamente inexistia à época", relata. "A solução encontrada foi partir, junto com minha esposa rumo ao Sul do País, visando convidar paranaenses, catarinenses, e especialmente os gaúchos com suas carreteras para correr em São Paulo". Dona Juze, a avó de Christian, relembra: "Fizemos esta viagem com uma Vemaguette da DKW".
Fittipaldi continua: "Percorremos diversas empresas, às quais oferecemos, não as cotas de patrocínio da prova, mas sim a possibilidade do pagamento de prêmios aos melhores na corrida. O Abraham Kasinsky (fundador da Cofap) e a acumuladores Durex se comprometeram a fazer os cheques diretamente aos melhores na competição", recorda.
Autódromo em condições, pilotos com participação confirmada. Quase todos os obstáculos haviam sido superados. Mas, havia mais um, como conta Fittipaldi: "Seria impossível mantermos controle sobre a corrida, já que o mato inviabilizava a visão de quase 80% da pista", relembra. "Para resolver este problema contatamos o Exército, que prontamente disponibilizou homens, barracas, e telefones de campanha, através dos quais todos os postos mantinham contato com uma central montada nos boxes", concluiu.
A prova inaugural aconteceu em 1956
A primeira Mil Milhas Brasileira, finalmente aconteceu no dia 24 de novembro de 1956. Concretizavam-se os sonho dos então amigos Eloy Gogliano e Wilson Fittipaldi, que fez a transmissão das cinco primeiras edições da corrida ao vivo, através da Radio Panamericana, hoje Jovem Pan. Depois da prova de 1960, um desentendimento entre ambos provocou a saída definitiva de Fittipaldi da organização, que então passou a ser feita exclusivamente por Gogliano, que jamais deixou de estar presente às edições da Mil Milhas, nem mesmo quando suas condições de saúde já não eram as ideais.
O Centauro Motor Clube continuou a organizar a competição mesmo depois da morte de Eloy Gogliano, em 1996. Dois anos mais tarde o clube transferiu para a Interlagos Eventos, comandada por Antonio de Souza, os direitos de promoção da Mil Milhas. Pelo contrato original o direito de promoção pela Interlagos iria até 2002. Recentemente, porém, a vigência do acordo sofreu prorrogação por mais dez anos. |