O ano era 1998, quando o paranaense Flávio Trindade se juntou ao carioca André Lara Rezende e aos paulistas Maurizio Sandro Sala e Regis Schuch para pilotar um Porsche da Stuttgart Sportcar Brasil, a primeira equipe 100% verde e amarela a disputar as 24 Horas de Daytona.
Ao contrário dos parceiros, o ex-piloto da Stock Car Trindade jamais havia corrido na pista da Flórida, que o impressionou já na chegada: "Decolamos de Guarulhos, fizemos uma escala em Atlanta e seguimos vôo para Daytona. Já na aproximação para o pouso fiquei observando as gigantescas retas, as arquibancadas para 160 mil pessoas e as curvas super inclinadas, que me impressionaram bastante”, relembra o então administrador do Autódromo de Curitiba.
Mas se o vôo teve céu de brigadeiro, o mesmo não se pode dizer em relação ao Porsche 911 GT2 com evolução 993 que estaria à disposição do “Team Brazil”, que depois de ficar retido por questões burocráticas só chegou à pista quando só restava o último treino e a sessão de classificação. Trindade relembra: “Com problemas alfandegários, o carro ficou retido por dois dias, e só tivemos o último treino e a sessão de classificação para realizar todos os acertos”, ele conta.
O contratempo burocrático, todavia, não impediu o time brasileiro de terminar a classificatória com uma boa terceira marca entre os carros da classe GT2.
O acidente, e poder da improvisação
Até por volta da quinta hora de prova, a estratégia do time brasileiro era seguida à risca, com paradas para reabastecimento, trocas de pneus e pilotos sendo realizadas de hora em hora.
Na “hora cinco”, porém, Schuch escapou da pista e bateu o carro, que ficou com a suspensão dianteira direita totalmente destruída. Um engenheiro da Porsche falou da possibilidade de transporte do carro até os boxes para que tudo pudesse ser guardado, mas não foi o que aconteceu. Trindade conta: “Os mecânicos colocaram o Porsche atrás do pit lane e no escuro e a céu aberto arrumaram a suspensão em cerca de uma hora, mostrando toda a capacidade de improviso que o brasileiro tem em situações de dificuldade", falou.
Coube ao próprio Flávio a pilotagem após a realização da “funilaria de emergência” que deixou atônitos todos aqueles que acompanharam o trabalho, que aplaudiram quando o paranaense retornou à pista.
Flávio narra: “Depois de três voltas, chamei a equipe pelo rádio e disse que estava tudo bem com o carro, e então fui autorizado a arriscar andar o que fosse possível, o que era tudo o que eu queria ouvir àquela altura. a partir daquele momento mandei ver, acelerando até os 300 km/h naquele circuito maravilhoso", contou o paranaense que cumpriu um ´stint´ de três horas de pilotagem durante a madrugada e outro de duas horas seguidas já com o dia claro.
Todo o esforço do time brasileiro resultou numa boa quarta posição entre as equipes da classe GT2, um resultado que até poderia ser diferente segundo Trindade. "Com certeza teríamos disputado a vitória se não houvesse o acidente, mas como dizia Fangio: 'carreras son carreras'". De qualquer forma, a aventura brasileira foi excepcional, e merece destaque na história do automobilismo brasileiro”, finalizou. |