Quando no intervalo entre as duas sessões de treinos da quarta-feira anterior à disputa do ano passado Frederick Sausset recebeu autorização para entrar no traçado de 13,629 km das 24 Horas de Le Mans estava tendo início a realização do sonho deste piloto francês de 47 anos que desde a amputação de seus braços e pernas em 2012, em decorrência de negligência médica, sonhava em disputar a mítica corrida que acontece em seu país natal desde 1923.
Ao final de seu “tour” pelo famoso traçado da capital do departamento de Sarthe, na região administrativa do Pays de la Loire, Sausset recebeu a promessa de que tanto a Federação Internacional de Automobilismo quanto outros nomes de peso do esporte seriam consultados sobre a possibilidade dele correr a 24 Horas desse ano, fato permitido e até mesmo apoiado pelo presidente da FIA Jean Todt e pelo nove vezes campeão mundial de Rally Sébastien Loeb, que atua como uma espécie de consultor de segurança do evento francês.
Com isso, Frederick chamou os compatriotas Christophe Tinseau e Jean-Bernard Bouvet para serem seus companheiros na pilotagem do Morgan LMP2/Nissan da SRT41 By OAK Racing durante a prova que terá sua largada autorizada às 10h00 da manhã do próximo sábado, pelo horário de Brasília.
Um arranhão, a septicemia e as amputações
Em 10 de julho de 2012, Frederick Sausset, que também é um empreendedor de sucesso, passava as férias com a família na costa do Atlântico quando sofreu um simples arranhão no dedo, o que não teria sido um problema grave caso tivesse sido corretamente atendido.
No entanto, os médicos foram negligentes no atendimento, o que resultou numa septicemia (infecção generalizada), fazendo com que entrasse em coma e acordasse apenas um mês mais tarde, já com os quatro membros amputados, o que acabou salvando-o da morte.
Ao sair do hospital, Sausset tratou de retomar a vida, adaptando-se às suas novas condições, e enquanto superava o luto pelo ocorrido escreveu o livro "Minha corrida para a vida" (cujo título original é Ma course à la vie), publicação na qual relata o antes e o depois das amputações e fala sobre sua vontade de realizar a façanha deste final de semana.
Uma prótese apenas
Para dominar a máquina, Sausset é colocado no carro pelos mecânicos, e após o afivelamento do cinto de segurança, um dos auxiliares prende um pino existente na prótese de braço direito ao volante do carro, que está longe de ser o comumente usado nas corridas, sendo na verdade uma manivela através da qual são comandadas acelerações e frenagens.
Vale a pena conferir no que a realização do sonho do piloto que adotou como lema de vida “Pode-se viver plenamente apesar da deficiência. Nunca perca a esperança” vai resultar, acompanhando a 24 Horas de Le Mans no final de semana.
Seu carro é o de número 84, e está inscrito como único da classe “Innovative Car”. |
