São Pedro treinou bastante nos dias de ensaios e da classificatória para a 29ª Mil Milhas, e caprichou na dose nas horas que antecederam a largada da prova, que inicialmente deveria acontecer à zero hora do dia 28 de janeiro, mas acabou sofrendo um atraso de três horas e 5 minutos.
Eram 18h30 do sábado quando algo semelhante a um dilúvio começou a cair sobre o Autódromo José Carlos Pace. O aguaceiro durou cerca de duas horas e meia, e transformou os boxes, a Torre de Cronometragem e a Sala de Imprensa em verdadeiros rios.
Numa parábola com o dito popular, pode-se dizer que "depois da tempestade vem a falta de luz". E lá estavam equipes, jornalistas e cronometristas da Racing Crono em meio a uma caótica e ensopada escuridão...
Antes mesmo do retorno da energia já se sabia que seria impossível liberar a pista para que os carros pudessem realizar o treino de aquecimento. O motivo para isto: a saída do "Esse do Senna", trechos do "Sargento", do "Esse" e da Junção estavam cobertos de lama.
Fosse só isso, o Warm up bem que poderia ser realizado. Acontece que a Curva Chico Landi havia sido totalmente invadida pela brita que o transbordamento do lago trouxe em sua esteira, fato que fez com que os promotores tivessem de sair à caça de um trator para a limpeza da pista.
Com um dos carros da organização, os pilotos Tony Kanaan e Otávio Mesquita - respectivamente os companheiros de Ruyter Pacheco, Flávio de Andrade e Felipe Giaffone, e de Rodrigo Santone, Paulo Yamamoto e Fernando Gonçalves -, decidiram partir para a realização de uma "vistoria" à antiga Curva da Descida do Lago.
Chegando lá, Kanaan e Mesquita praticaram "Brita Ski", mas depois, provavelmente por compaixão com os sinalizadores da equipe Speed Fever, passaram a "dar uma força" ao pessoal. Cada um pegou um rodo... O jeito foi esperar a chegada do trator...
A maldição do Boxe 4
Numa pista já bastante mais livre dos efeitos do aguaceiro, os 63 carros inscritos alinharam. Do "larga" até o 57º giro, completado após pouco mais de duas horas de disputas, o comando das ações ficou por conta do surpreendente protótipo MCR número 8 do trio Juliano Moro/Isaac Saldanha/Cacá Clauset.
Acontece que o câmbio do carro não suportou o forte ritmo de corrida, o que abriu caminho para que o "Super Compacta BMW Speeder" de Nélson Piquet/Rodrigo Piquet/Mário Haberfeld (o responsável pela largada) passasse a ocupar a primeira posição.
Aquele que seria o segundo turno de pilotagem do sobrinho do tricampeão mundial de Fórmula 1 - que só pilotaria depois do amanhecer - nem chegou a começar. Rodrigo Piquet tentou deixar a frente do boxe número 4 duas vezes, mas não conseguiu engatar nenhuma marcha. Acabou no 87º giro a corrida para o carro número 1.
O terceiro carro a liderar a disputa foi outro protótipo "Made In Brazil": o Hollywood/BMW de Ruyter Pacheco/Flávio de Andrade/Felipe Giaffone/Tony Kanaan. O final da liderança do quarteto aconteceu na 159ª passagem, quando o sistema de fixação do assoalho teve problemas. A liderança então passou a ser ocupada pelo Porsche GT 3 de Regis Schuch, André Lara Resende, Max Wilson e Flávio Trindade.
Tony Kanaan - que foi convocado a participar da corrida na quinta-feira, e no sábado seguiu direto do aeroporto para o autódromo, fez uma boa pilotagem, ganhando quatro posições depois que a equipe ? que apesar dos problemas não perdeu o bom humor - conseguiu reparar o assoalho do carro número 2.
O soteropolitano que corre na Fórmula Cart/FedEx pela equipe Mo Nunn chegou a entregar a condução da máquina a Felipe Giaffone, que manteve um bom ritmo até a quebra do câmbio.
Coincidentemente ou não, os três protótipos que estiveram na liderança e abandonaram a corrida por quebra dos câmbios estavam no boxe número 4. Seria maldição?...
Do drama de Hanashiro à quinta vitória da Porsche
Antes que a quadriculada fosse agitada pelo diretor de prova Antonio Carlos Regal, Rodrigo Hanashiro viveu um drama particular. Ele e seu companheiro na pilotagem do protótipo AS Vectra número 9, Baltazar Júnior, haviam mineiramente ganho posições, até atingirem a segunda.
Quando restavam apenas 20 voltas para a quadriculada, o motor apresentou problemas, o que levou Hanashiro às lágrimas, e permitiu que o trio Jair Bana/Tino Vianna/Peter Januário pudesse ocupar o segundo degrau do pódio . A terceira colocação ficou para Pedro Pimenta Jr/Amaury Pires e Daniel Gianfratti.
O topo do pódio foi ocupado pelo quarteto Regis Schuch, André Lara Resende, Max Wilson, Flávio Trindade, que com um modelo GT3 alcançou a quinta vitória para a Porsche na Mil Milhas.
As conquistas anteriores de carros produzidos pela fábrica de Stuttgart haviam acontecido consecutivamente entre 1993 e 1996.
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